sexta-feira, 19 de julho de 2013

RESENHA da Obra de SILVA, Mariani Oliveira e. AIDS, religiosidade e qualidade de vida: um olhar sobre as gestantes atendidas em um hospital público de João Pessoa-PB / Mariani Oliveira e Silva, José Antônio Novaes da Silva. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.


Leilany Campos Barreto
Estudante do Curso de Licenciatura em Ciências Naturais - UFPB - UAB Virtual
leilanycampos@hotmail.com



AIDS, Religiosidade e Qualidade de Vida é uma obra de grande importância e com muitas informações coletadas em um Hospital Público de João Pessoa, mostrando questões da Síndrome da Imodeficiência Adquirida (HIV) e questões de sua rápida e devastadora trajetória, em pouco tempo que transformou todo panorama do mundo, afetando a vida de milhares de indivíduos em seus múltiplos espaços.
A autora contextualiza sua obra em diversas dimensões e mostram que a nos países desenvolvidos o perfil epidemiológico permanecia com o maior número de casos entre homens jovens, brancos e homossexuais, na África do Sul e na Nigéria isto ocorria entre homens e mulheres negros e heterossexuais. Havia, portanto, fortes indícios de que os acometidos pela doença eram uma ameaça em potencial e seriam estigmatizados, isolados e discriminados. Este apartamento das pessoas doentes foi veiculado pela mídia.
Mariani seleciona e conta que enquanto profissional integrante da Comissão Interinstitucional de Saúde para AIDS, durante as décadas de 80/90, ela observou o impacto provocado na vida das pessoas acometidas pela doença, não somente do ponto de vista da saúde, mas pela sua repercussão social. A discriminação; a morte social; o isolamento e o medo eram fenômenos comuns no âmbito da vida privada, social e da saúde, vindo despertar meu interesse em acompanhar com mais proximidade as mulheres negras grávidas portadoras do HIV/AIDS, por elas fazerem parte de um grupo de maior vulnerabilidade, e ser este um período de possível transmissibilidade da infecção para o bebê, deixando-as ainda mais fragilizadas.
Nessa obra, Mariani aponta de maneira sutil que o profissional da saúde necessita resinificar sua postura diante do ser humano portador do HIV/AIDS e que essa trajetória, especialmente durante a primeira década da epidemia, mostra que a percepção da vulnerabilidade das mulheres com relação ao novo advento foi desconsiderada por longo tempo tanto nas campanhas de prevenção da doença quanto nas metas governamentais de atenção à saúde. As primeiras informações sobre o HIV/AIDS passaram à falsa ideia de que a doença afetava apenas aos homens, contribuindo substancialmente para a expansão da AIDS neste segmento.
Para a autora a sociedade, desde tempos imemoriais delimitou os espaços que a mulher ocuparia na sociedade. Mais recentemente os diferentes espaços ocupados por homens e mulheres estão sendo analisado com base na categoria gênero o qual permite discutir os diferentes locais ocupados por estes protagonistas em uma sociedade, pois para que essa doença tenha controle é necessário que haja o envolvimento e o aconselhamento e a oferta do teste anti-HIV durante o pré-natal, asseguram a mulher o direito a informação e também o acesso a tratamentos e a utilização dos antirretrovirais, minimizando assim a possibilidade de transmissão do vírus para o feto e para que isso aconteça é preciso que seja reduzida a possibilidade do contágio vertical o uso dos antirretrovirais deve ocorrer a partir do primeiro trimestre da gestação e no momento do parto.
Outra questão abordada por Mariani é a vulnerabilidade que tem um conceito que está sendo utilizado desde os anos 90, quando se reflete sobre as ações voltadas para a prevenção de HIV/AIDS. As mulheres que mantêm um regime de conjugalidade demonstram conhecimento sobre o HIV/AIDS, são informadas sobre as praticas de prevenções adotadas, mas não se protegem no relacionamento conjugal por se sentirem seguras e confiantes com relação ao seu vínculo afetivo com seu parceiro.
Em sua pesquisa a autora também relata que estudos recentes comprovam uma maior vulnerabilidade da raça negra por conta de suas características peculiares e que a população negra no Brasil está submetida a padrões sociais e econômicos políticos e culturais que levam a uma inserção social desqualificada, desvalorizada, produzindo uma vulnerabilidade social destes protagonistas. Isso mostra que uma boa condição de vida proporciona uma maior ou menor incidência do HIV sobre a população negra, quando existe a dificuldade por parte da população afro descendente, com acesso aos meios de prevenção, tratamento, e controle da infecção tanto no aspecto individual quanto coletivo.
A autora também percebe em sua pesquisa que uma boa qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, a qual tenta aproximar o grau de satisfação encontrado pelo indivíduo com relação a sua vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Isto implica na capacidade de realizar uma síntese baseada nos valores ditados pela sociedade, ou seja, o que ela considera como sendo seu padrão de conforto e bem-estar. E essa qualidade de vida, como concepção universal, diz respeito à satisfação das necessidades humanas básicas: alimentação, acesso a água potável, habitação, trabalho, educação, saúde e lazer; condições materiais relativas de conforto, bem-estar e realização individual e coletiva.
Diante disso surge o conceito de qualidade de visa no âmbito das ciências humanas e biológicas, para que fossem valorizados parâmetros mais amplos, indo além do simples controle de sintomas, e voltando-se mais para questões como a diminuição da mortalidade e o aumento da expectativa de vida. E importante também salientar que as mulheres com HIV/AIDS devem ter acessibilidade aos serviços de saúde publica e que o ativismo político embasou a imediata reação de movimentos sociais frente à AIDS nos aspectos da atenção à saúde, prevenção e combate a situação de discriminação direcionada aos grupos mais susceptíveis e as pessoas vivendo com HIV /AIDS.
A autora menciona que desde os primórdios a religiosidade e a espiritualidade atual como aliadas, conferindo um suporte ás pessoas que estão vivenciando momentos difíceis, estes podem ir desde o desemprego, passando pela perda de pessoas afetivamente importantes, chegando até a convivência familiar/social com portadores desta patologia, até mesmo a aceitação do difícil diagnóstico de uma doença grave e estigmatizante.
Portanto, vê-se que o estudo realizado com mulheres grávidas e mães soropositivas e ou doentes de AIDS, constatou-se que o envolvimento religioso/religiosidade foi utilizado como fonte de apoio e esteve relacionado aos mecanismos de enfrentamento e apoio social. O impacto da soropositividade traz à luz a proximidade da morte, se contrapondo com a chegada de uma nova vida, envoltos pelo estigma e o preconceito que ainda permeia fortemente os acometidos por esta patologia.
Outra questão abordada por Mariani é que a representação de Deus para os portadores do HIV sugere-se que independente de corrente religiosa seguida, os depoimentos demonstram que o suporte dos irmãos/as de fé e, o envolvimento com a religião, quer seja direto ou indireto, fortalece, encoraja, dá forças para que a doença seja encarada, sem subterfúgios. E que a religião, a igreja, Deus são percebidos por estas gestantes como fonte de apoio em meio ao sofrimento/estresse/estigma que a doença carreia consigo. A fé em um Deus Supremo que está no controle de todas as coisas, engloba, na compreensão dessas mulheres, inclusive, a condição de estarem doentes, ao tempo em que lhes permite resignar-se diante de sua realidade.
No contexto da fé em um Deus Supremo Mariani aponta que as gestantes declaram a aceitação da doença como uma missão divina. Quando uma pessoa é portadora de uma doença grave em potencial como é o caso da AIDS, geralmente passa a refletir sobre sua vida e seus valores, buscando na condição de doente um significado para o sofrimento. Cada vez mais se certifica que a descoberta da doença leva algumas pessoas a se revoltarem contra Deus, contra os profissionais de saúde, contra a família, enfim, contra todos que os cerca. Por vezes, Deus é percebido por elas como um Deus punitivo, o que gera sentimentos de raiva, desprezo e incompreensão quanto à natureza divina, de amor e compaixão Sem o “suposto“ apoio de Deus, elas sentem-se sós, depressivas, e nesta condição, muitas vezes não conseguem vislumbrar uma expectativa de vida, um futuro promissor, e entregam-se sem luta, aos sofrimentos impostos pela doença, e por vezes a própria morte. 
Em um dos trechos citados na pesquisa da autora as gestantes relataram a necessidade de estarem unidas a uma divindade e ou a igreja para se sentirem protegidas, apoiadas. Na concepção delas, a divindade como ser superior é capaz de protegê-las e fortalecê-las para enfrentar a doença. A igreja, enquanto um agrupamento de pessoas que se unem em torno de uma mesma crença as apoia com orações e palavras de amor que estimulam a fé. A fé por sua vez, gera confiança, amparo conforto, proporcionado por um Deus amável, generoso e fiel.
Ao longo da obra a autora nos coloca diante de uma analise que, independente da idade, raça ou religião, as mulheres grávidas expostas ao HIV/AIDS reconheciam sua fragilidade diante da doença. Algumas referiram que seus filhos eram a única razão para continuarem lutando pela vida, outras se reportavam a fé como razão para sua existência.
Mariani comenta que todas as gestantes perceberam sua relação com o sagrado como o sentido de suas vidas e a força propulsora para enfrentar os momentos de estresse e dificuldade na vida e em especial diante da soropositividade. A aceitação diante da doença foi observada, sendo interpretada por algumas como castigo divino merecido, e por outras havia a não aceitação de tal condição.
A autora seleciona e pauta que o objetivo da obra foi abordar às questões vinculadas à religiosidade/qualidade de vida contribuiu para a aproximação do pesquisador ao tema, bem como conhecer a realidade do paciente soropositivo, quanto a sua esperança de vida, fé e superação favorecendo assim, melhor compreensão quanto ao alto cuidado, visitas aos serviços de saúde, adesão ao tratamento antiretroviral para si e seus filhos quando necessário garantindo uma maior sobrevida e consequente qualidade de vida individual e social e facilitando as intervenções de combate ao preconceito, estigma e descriminação dos portadores desta patologia.  Através de vários estudos vê-se que o trabalho multiprofissional e interdisciplinar é a mola propulsora para a atenção holística ao indivíduo. Para tanto é urgente à qualificação dos profissionais de saúde ao atendimento humanizado, acolhedor, integral, resolutivo e equânime, baseada nas necessidades individuais dos usuários e respeitando suas peculiaridades, princípios norteadores do SUS para todos os usuários bem como aos portadores/as do HIV/AIDS, abrangendo sua rede social, e seus familiares.

Porém, Mariani ressalta que, a abordagem quanto às questões vinculadas à religiosidade/qualidade de vida contribuíram para a aproximação do pesquisador ao tema, bem como conhecer a realidade do paciente soropositivo, quanto a sua esperança de vida, fé e superação favorecendo assim, melhor compreensão quanto ao auto cuidado, visitas aos serviços de saúde, adesão ao tratamento antiretroviral para si e seus filhos quando necessário garantindo uma maior sobrevida e consequente qualidade de vida individual e social e facilitando as intervenções de combate ao preconceito, estigma e descriminação dos portadores desta patologia.

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